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O etarismo e as mulheres

Com o aumento do envelhecimento populacional, o uso das redes sociais e da internet cada vez maior, as mulheres têm sofrido na pele as pressões sociais mais intensamente

Por Anna Beatriz Viganó

Ela participou de um processo seletivo para trabalhar em uma empresa. Neste, havia outras candidatas mais jovens. Fizeram a prova, a dinâmica e a entrevista. Deborah foi a que se destacou, mas por conta da sua idade, não foi escolhida para a vaga, disseram a ela que contratariam uma pessoa mais jovem. Nesta época, tinha 42 anos.

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Depoimentos como de Deborah Ricco, de 57 anos, gerente de organização escolar, não devem ser levados apenas como uma entrevista de trabalho sem sucesso. São comportamentos categorizados como preconceituosos e discriminatórios, praticado contra uma pessoa ou um grupo social. Essa discriminação baseada na idade é chamada de etarismo. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, o etarismo é o preconceito contra idosos, porém, ele pode ser considerado como um preconceito contra qualquer grupo etário. Independentemente da definição, esse tipo de discriminação se comporta como uma só na sociedade, abalando diferentes grupos etários e causando situações desconfortáveis, como a de Deborah, no dia a dia. 

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Segundo a educadora em gerontologia e diretora da Escola de Cuidados, em Campinas, Marta Fontenele, a sociedade contemporânea tem se mostrado sofisticada para criar e procriar atitudes preconceituosas, fato que faz com que o etarismo se intensifique. Ainda, defende que para combater esse tipo de discriminação é necessário mudar o atual cenário de falta de conscientização e escassa moralidade. Além disso, Marta ressaltou que vem sendo considerado como adultismo o preconceito etário contra adolescentes.

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O que é ser “velha demais”?

 

Camila Crespo, 14 anos, estudante do nono ano do ensino fundamental, e as amigas estavam brincando no parquinho do condomínio. Uma moradora pediu para que se retirassem, dizendo que elas já eram “velhas demais” para brincarem nos brinquedos e que podiam machucar as crianças. Afinal, quando é ser “velha demais”?

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Apesar de também existirem relatos de homens que passaram por essa situação, com as mulheres a pressão social sempre foi mais forte. Afinal, por que elas não mostram seus fios de cabelos brancos? Por que sempre precisam parecer mais jovens do que realmente são? Por que a aparência de “mais velha” na mulher é malvista pela sociedade? 

 

A educadora Marta defende que o machismo e o patriarcalismo contribuem para esse cenário, no qual as mulheres sofrem mais com as pressões sociais quando o assunto é idade e envelhecer.

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Além desses questionamentos, há uma outra realidade a parte: a das redes, que faz com que toda essa pressão se intensifique. Mesmo com a presença de idosos e ativistas do movimento body positive na internet, o uso de filtros que deixam a pessoa com uma aparência jovial e de “photoshop” aplicado em fotos publicadas é cada vez mais acentuado. Segundo um estudo realizado pelo Sesc de São Paulo e pela Fundação Perseu Abramo, apenas 19% fazem uso efetivo da internet, mostrando uma outra face do etarismo no Brasil: a exclusão desse grupo etário nas redes.

 

Segundo Marta, as redes sociais e a internet já são ambientes favoráveis a manifestações discriminatórias, sejam elas de qual natureza for. Sendo assim, com o etarismo não seria diferente. Mesmo com apenas 19% dos idosos online, essa prática na rede se faz presente.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Segundo o Estatuto do Idoso, a pessoa que completa 65 anos de idade já é considerada idosa. Contudo, no dia a dia, essa classificação é feita a partir de outros fatores, um deles é o físico do indivíduo.

 

Foi o que aconteceu com Maria Aparecida Morozini, 67 anos, designer de interiores, quando questionada em um exame médico periódico se estava apta para o cargo que possuía, se ela não sentia nenhuma dificuldade, e tudo isso por conta de sua idade, por já ter passado dos 65 anos de idade.

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E “nova demais”?

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Maria Aparecida ainda conta que um dia foi questionada por uma pessoa no banco por estar na fila preferencial. Ela foi julgada como “nova demais”, ou não velha o suficiente, para estar aproveitando daquele direito. 

 

Por outro lado, Fernanda Valério, 23 anos, estudante de direito, relata que já foi julgada como “muita nova ainda” para debater sobre política, no cenário das eleições presidenciais do ano de 2018. Alguns de seus amigos ou parentes mais velhos não a levavam a sério em debates sobre o cenário político atual e sobre os candidatos apenas por conta de sua idade.

 

 

 

 

 

 

 

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Maria Aparecida e Fernanda, apesar de idades diferentes, foram vítimas de etarismo. Estudos apontam que os idosos e os adolescentes são os grupos etários que mais sofrem com esse tipo de preconceito, pois sempre são julgados como “velhos demais” ou “novos demais” para realizarem alguma atividade.

 

O etarismo também já atingiu grandes nomes da mídia internacional, como Madonna. Atualmente com 62 anos, a diva pop foi vítima desse tipo de discriminação ao ser chamada de “velha”, gagá”, dentre outros xingamentos preconceituosos, quando defendeu o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 em um vídeo na sua conta do Instagram.

 

Além do caso de Madonna, pode ser citado também o caso de Ana Carolina Apocalypse. A motorista de 62 anos viralizou no Twitter após publicar um “antes e depois” do processo de transição. Ana Carolina diz já ter feito terapia hormonal, que adquiriu o seu nome social e colocou um implante de silicone em 2019, mas que ainda não quer fazer a cirurgia de mudança de sexo. Além das dificuldades enfrentadas pela homofobia e transfobia, ela relata que o processo não foi fácil, Ana também foi vítima de etarismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para saber mais sobre preconceitos contra a comunidade LGBTQIA+, confira a reportagem de Mariana Torelli sobre Bifobia.

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Deborah Ricco.

Fonte: arquivo pessoal

Marta Fontenele, à direita, usando um colar vermelho, junto com idosas em uma oficina no Centro Dia, na cidade de Valinhos, São Paulo.

Fonte: arquivo pessoal

Camila Crespo.

Fonte: arquivo pessoal

Maria Aparecida Morozini.

Fonte: arquivo pessoal

Fernanda Valério.

Fonte: arquivo pessoal

A publicação de Ana Carolina que viralizou, mostrando o antes e depois de sua transição.

Fonte: Twitter de Ana Carolina Apocalypse

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