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“É mais difícil do que eu pensei que fosse ser”- afirma a estudante Ana Clara Moniz

O preconceito e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência dentro do ambiente acadêmico

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Desenho feito pela artista  Paloma Barbosa (Foto: Reprodução/Instagram @partes.art)
Por Rebeca Dias 

De acordo com o dicionário Aurélio, capacitismo é um termo utilizado para descrever a discriminação, opressão e abuso advindos da noção de que pessoas com deficiência são inferiores às pessoas sem deficiência. A estudante do terceiro ano do curso de jornalismo da PUC-CAMPINAS, Ana Clara Moniz, de 20 anos, que tem Atrofia Muscular Espinhal (AME) conta que antes de ingressar na universidade estava ansiosa: “eu estava muito empolgada, em viver uma fase nova, eu morava no interior do Rio de Janeiro e eu mudei para Campinas só para fazer faculdade.’’- conta a universitária.

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Contudo, não demorou muito para Ana Clara começar a perceber os problemas de acessibilidade, “aconteceu algo que eu não esperava que são as dificuldades do dia a dia, que eu passo por causa da acessibilidade”, explica a jovem. Por conta da sua doença, Ana não tem força nos músculos e por isso não consegue realizar atividades que envolvam muita força. Assim, a estudante precisa de ajuda para realizar as atividades dentro da universidade como ir até a praça de alimentação “é mais difícil do que eu achei que fosse ser”.

Contudo, não demorou muito para Ana Clara começar a perceber os problemas de acessibilidade, “aconteceu algo que eu não esperava que são as dificuldades do dia a dia, que eu passo por causa da acessibilidade”, explica a jovem. Por conta da sua doença, Ana não tem força nos músculos e por isso não consegue realizar atividades que envolvam muita força. Assim, a estudante precisa de ajuda para realizar as atividades dentro da universidade como ir até a praça de alimentação “é mais difícil do que eu achei que fosse ser”.

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Como maneira de conscientizar as pessoas sobre capacitismo e outros temas relacionados à sua deficiência, Ana Clara divulga vídeos e textos explicativos em seu Instagram (@_anaclarabm), além de realizar palestras pelo Brasil.

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Segundo o Censo 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter algum grau de dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou subir degraus), ou possuir deficiência mental / intelectual. Apesar de uma boa parte da parcela da população possuir alguma deficiência, apenas 0,5% dessas pessoas estão nas universidades e faculdades do país, de acordo com o MEC.

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Ana Clara Moniz realizando uma entrevista para a televisão da faculdade  (Foto: Arquivo pessoal) 
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Para a recém-formada em jornalismo pela PUC-CAMPINAS, Ana Luiza Fernandes, de 21 anos, tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou como é popularmente conhecido autismo, em seu grau mais leve. Pra Ana Luiza, o ambiente universitário foi bem desafiador. “o que eu mais enfrentei, em todo o meu processo de estudante universitária, foi o preconceito e o capacitismo”. – afirma Ana Luiza. Além disso, segundo a estudante, o principal problema foi que a faculdade e seu corpo docente não estavam preparados para lidar com sua deficiência “quando eu cheguei na universidade, as pessoas não sabiam lidar comigo”.

As dificuldades enfrentadas pela jornalista, que agora está cursando Artes Visuais também na PUC-CAMPINAS, não ficaram restritas apenas ao capacitismo. Ana Luiza conta que sofreu com problemas de ansiedade e até depressão. “Desenvolvi ansiedade, fobia social e depressão [...]. Nessa época, eu comecei a me cortar. Porque o preconceito e o capacitismo manipulam. Fui tratada feito lixo só porque tinha autismo.”- afirma à universitária. De acordo com a psicóloga, Rayza Pansarim Vieira, a exclusão de pessoas com deficiência (PDC) dentro dos ambientes acadêmicos, pode desencadear uma série de transtornos emocionais e psicológicos. 

Ana Fernandes na apresentação do seu pôster de Iniciação Científica (Foto: Arquivo pessoal)
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fonte: Revista Autismo

E se engana quem pensa que o preconceito atinge somente os alunos. A professora e ativista pelos direitos dos PCD's, Luciana Veigas, de 30 anos, que assim como Ana Luiza tem um leve grau de autismo, também sofre capacitismo dentro das salas de aula. Como forma de tratar do assunto, Luciana Veigas publica conteúdos relacionados à sua luta em sua conta do Instagram (@umamaepretaautistafalando) e também ministra cursos on-line sobre como praticar uma educação inclusiva.

 

A professora explica, que devido ao seu transtorno é muito difícil lidar com o dia a dia das escolas e os diversos estímulos dentro de uma classe. Essa é uma característica das pessoas que possuem autismo, que é a dificuldade para interação social, dificuldade com a linguagem e comportamento repetitivo e restritivo. “Para mim o ambiente acadêmico é bom, mas super estimula então eu preciso ter uma jornada de trabalho reduzida”. E mesmo com altas habilidades acadêmicas, ainda sim, já se sentiu silenciada em seu ambiente de trabalho “sempre falam que eu falo demais’”. Confira na matéria sobre etarismo, o preconceito que pessoas idosas sofrem ao serem julgadas para realizar alguma atividade apenas por conta de sua idade.

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Logotipo do instagram da Luciana Veigas (Foto:Reprodução/Instagram) 

Inclusão X Exclusão

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No dia 30 de setembro de 2020, o governo de Jair Bolsonaro lançou o plano de Política Nacional de Educação Especial, neste plano as escolas regulares tem a obrigatoriedade retirada de aceitar alunos com algum tipo de deficiência. O movimento PCD acredita que essa é uma forma de segregar os alunos especiais, uma vez que, os mesmos teriam que estudar em uma escola só para pessoas com deficiência, o movimento busca a integração de todos os alunos. A hashatg (#escolaespecialnaoeinclusiva) foi utilizada por ativistas contra a proposta de educação especial. De acordo com a pedagoga especializada em educação especial, Denir Aparecida Ribeiro, o Plano Nacional de Educação Especial, promove justamente aquilo que os educadores querem evitar, que é a segregação dos alunos com deficiência. Segundo a especialista, a convivência entre  pessoas com deficiência (PCD) e pessoas sem deficiência é importante justamente para combater o capacitismo e preconceito: “o maior ganho é a sociabilidade, o ganho social, o deficiente interagir com o não deficiente”.

E quem convive com o capacitismo diariamente, acredita que a inclusão é uma das respostas para combater o preconceito desde cedo. Segundo Ana Luiza, a sociedade, hoje em dia, só se baseia em preconceitos e a incluir é uma forma de combater esse problema “Eu acho que a inclusão é a solução e eu acho que alivia muito para as pessoas com deficiência. Mas para se fazê-la de fato, esses estereótipos têm que acabar.”.

 

A estudante de jornalismo, Ana Clara, acredita que a convivência dentre pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência é uma forma de diminuir o preconceito “quando a gente convive com uma pessoa diferente da gente, é muito mais fácil entender que essa pessoa tem os mesmo direitos e deveres que a gente.”- afirma Ana Clara.

 

Para a professora, Luciana Veigas, o capacitismo deve ser combatido dos dois lados, tanto dos alunos quanto dos educadores “o professor, como profissional, deve passar a ter contato com pessoas com alguma deficiência, até para ajudar no planejamento de suas aulas e, deixar a aula mais inclusiva e acessível a todos.”.

Inclusão das pessoas PCD na educação (1)
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